segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Arapuca

Por Cláudia Meireles

Liberto foi meu canto.
Agora, não é mais.
Pelas garras dos homens,
Minha liberdade se desfaz.
Era ave cantante,
Alegre...
Pássaro ingênuo,
Desconhecia a maldade humana.


Não imaginava que a racionalidade
Da qual tanto se orgulhavam
Era, na verdade,
Velada mediocridade
Na crueldade manifesta.
Os homens sabem sequer contemplar a beleza.
Acreditam-se no direito de destruir
Ou aprisionar
Toda a Natureza.
E esse foi o preço que paguei:
Por não desconfiar,
Prisioneiro me tornei.
Meu crime?
Não ser mudo,
Belamente voar,
Fazer mal a ninguém
E saber cantar.
E eles continuam impunes.
Vitimando desavisados como eu,
Sequer consideram
Que também somos
Filhos de Deus.